Doula Samara Barth: Relato de Nascimento do Valentim- Bruna e João Paulo (Cesárea Intraparto)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Relato de Nascimento do Valentim- Bruna e João Paulo (Cesárea Intraparto)



Sempre sonhei em ser mãe, casar e ter um montão de filhos. Há quatro anos atrás, comecei a perceber que nem tudo é tão fácil assim. Iniciou minha fase como tentante, a cada mês a expectativa do tão sonhado “positivo” e de repente ele não vem, tinha apenas alguns dias para recuperar dessa frustração e começar tudo novamente. Espera esta que dói, cansa, e nos faz até pensar em desistir.
Sofremos as demoras do Senhor, colocamos nas mãos dele todos os desejos do nosso coração e fomos fazendo nossa parte, vários exames, posições, técnicas, quando enfim chegou o momento certo e descobrimos que estávamos grávidos!
Nunca vou esquecer a emoção de receber um positivo, que durou apenas um final de semana, perdemos. Ah que tristeza, a incerteza, quem foi o culpado?! Um luto que passamos em sigilo e silencio... muitos não souberam, nos calamos para tentar compreender este momento e aumentamos ainda mais nosso desejo e nossas orações, pois não entendíamos a vontade de Deus, mas por mais difícil que fosse sabíamos que ele tinha o melhor para nós!
Quatro meses fomos surpreendidos, descobrimos que estávamos grávidos novamente, apenas 5 semanas, ahhh e a alegria e a emoção tomou conta de nós novamente, com 8 semanas ouvir a batida do coração! Fomos invadidos de amor! Que momento tão esperado... era verdade, estávamos gerando o fruto mais concreto do nosso amor!
Foi uma gestação muito linda, porém com muitos desafios, sangramento muito intenso inicial, aquele medo que o pior acontecesse novamente, internação, repouso absoluto até o 4º mês, depois mais repouso, baixo liquido amniótico, perda de tampão e colo fino com 29 sememas... enfim com 37 semanas meu príncipe resolveu nascer.
Durante toda gestação tinha certeza do queríamos, que nosso pequeno nascesse da forma mais natural possível, no entanto o hospital nos tranqüilizava pois tínhamos muitas inseguranças. Escolhemos o parto natural hospitalar.
Não tinha medo do parto, muito pelo contrario, eu sempre soube que não seria fácil, sabia que doeria, e muito, mas o desejo de ver o meu menino nascendo e eu podendo pega-lo em meu colo logo após seu nascimento... isso me dava ainda mais força e certeza de que essa seria a melhor opção. Buscamos profissionais dispostos a nossa causa, bancamos mudar de médico na reta final, fomos atrás de conhecimento, experiências, enfrentamos o pré-conceito da família, de muitos que achávamos que éramos loucos, mas enfim estávamos decididos e ansiosos. Sempre dizia “quero parto natural, vou tentar, quero conseguir, isso é o melhor para nosso bebê”.
Ruptura alta da bolsa com mais de doze horas, fomos internados e o parto normal foi induzido, uma enfermeira que Deus preparou, uma profissional dedicada, humana e cheia de ternura. Edilaine obrigada!
Entrega e apoio, sob o olhar terno da avó, a mãe nascia.
Nossa doula querida Samara Barth já ao nosso lado, sempre nos dando força, nos preparando, acalmando, não medindo esforços para garantir que tudo saísse como desejávamos. Massagem, comidinha, entrega, benção das mulheres da minha vida (Mãe, Irmãs Taís e Pamela e Vó), que momento marcante, recheado de amor, energia positiva, fé e muita força! Eu fui agraciada por Deus por ter as me dado! Souimensamente grata por cada uma de vocês! Obrigada As por ter organizado este momento, nem imaginava que isso seria tão bom!
Começaram as dores, fui ficando mais forte, mais mamífera, minha única vontade era ajudar meu menino a sair, queria parir, pega-lo no colo... bola, chuveiro, cama, caminhada, e tudo ia ficando mais intenso. Estava tão realizada e feliz em me tornar mãe, confiava que daria tudo certo, o apoio e afeto do meu esposo ali me incentivando, era como havíamos sonhados!
Embora sempre soubéssemos que não seria sonho, sabíamos que seria uma jornada árdua, que
Massagem para alívio das Ondas
precisaríamos ser fortes um para com o outro, que teria dor, gritos, medo, mas era o que queria viver.

Foi uma luta interna muito grande, não queria desistir, mas a leoa que me sentia e imaginava estava ficando mais distante, era como se estivesse escorrendo pelos meus dedos... com pesar verbalizo eu também cai na estatística “15% (segundo nos diz a OMS baseada em estudos científicos de qualidade) das mulheres precisarão de uma cesariana. Não referente as que queriam a cirurgia, ou que foram ludibriadas por mitos e terrorismo disseminados pela cultura e pelos próprios médicos, refere-se as das que queriam parir, acreditavam no parto, e não conseguiram.”
Sempre pensei que poderia não dar certo, que poderia não conseguir, mas nunca acreditei de verdade nisso, achava que não iria acontecer comigo. Eu gostaria muito de poder relatar que eu consegui , mas não consegui. Eu queria muito ter sentindo aquela alegria, a coroação, a expulsão, ele vindo direto para meus braços, ali mesmo no pré parto, com os meus do lado, mas com a cesárea nada disso foi possível.
Bem vindo, meu novo Ser <3
Fui para o centro cirúrgico com um misto de sentimentos, já no ato da anestesia a frustração do momento era inevitável, já não um choro físico, mas um choro que doía a alma, o anestesista ate chegou a perguntar se eu estava sentindo alguma dor, acho que ate duvidou que anestesia podia não ter pego. A tristeza pelo não parto era real e devastadora. Mas a alegria pelo meu filho, ahh essa não existe maior! Nunca vou me esquecer quando vi o rostinho dele pela primeira vez, ainda todo sujinho, mesmo que nas mãos da enfermeira meu amor e carinho era como se estivesse pegando ele nos meus braços, sentir o calor dele na minha pele... ahh inapagável, inexplicável e inesquecível.
Com alguns ajustes posso descrever que meu parto foi como eu escolhi, com pessoas que queria comigo, minha mãe mulher forte e intercessora, meu esposo, o amparo das minhas irmãs, a expectativa da família. Foi afetuoso, alegre, intimo, doloroso....
Ou melhor não foi, não deu... mas sei que eu dei o melhor de mim naquele momento, dei o melhor de mim para meu filho, respeitei meus limites, e aqui de maneira muito especial agradeço a Regina Carvalho, um anjo, por me ajudar a entender esse momento, a me entender, a olhar para mim com mais carinho, me pegar no colo, isso foi essencial.
Acredito que toda cesárea indesejada implica em um luto do parto que não tivemos, e lamentar a mesma faz parte, elaborei meu luto, tive uma experiência muito intensa e gratificante e que meu deu ainda mais força e esperança para querer o próximo parto natural.

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